quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal

*Por Gerson Balione
Desejo a todos meus amigos, um Natal maravilhoso, cheio de alegria. Repleto de castanhas, se não tiver, pode ser amendoim. Repleto de peru, se não tiver, pode ser frango zumbi. Repleto de Champagne, se não tiver, pode ser cidra, retirada de um trabalho na encruzilhada. Não importa com o quê vai comemorar, apenas comemore. Apague todas as mágoas de seu coração, mesmo que ele seja duro e apodrecido. Abrace sua sogra, mesmo que ela tenha verrugas cabeludas e o bigode por fazer. Abrace seus vizinhos, mesmo que eles tenham filhos gêmeos, encapetados, que te infernizaram o ano todo.

Não deixe que, cuecas espalhadas pelo chão, largadas por seu parceiro ou calcinhas dependuradas no registro do banheiro, deixadas por sua parceira, tragam discórdia entre vocês.

Ajude uma pessoa falsa. Dê a ela um espelho mágico, que mostrará de onde vem toda falsidade.

Abrace um político, mesmo que ele seja, palhaço, ladrão, sem vergonha, cachorro, filho da put... Opa, exagerei. Vou pular esta parte.

Nunca desanime. Quando estiver no fundo do poço, pense, sempre da para cavar mais um pouco e deixe para se preocupar quando a terra estiver por cima.

E neste Ano Novo vamos todos dar as mãos... — esse negócio de dar as mãos é um saco — e fazer deste mundo, que está entrando em colapso, com nevascas, enchentes e iminentes guerras, um mundo melhor para se viver.

Feliz Natal e um maravilhoso ano.

P.S. Estou pensando em escrever um livro de autoajuda.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Vento

*Por Gerson Balione

Foi assim que tudo começou, com este belo poema ingressei no mundo literário.

O Vento

O vento sopra...
O vento sopra gotículas...
O vento sopra gotículas de saliva de um ignóbil falador
Que esbraveja aos quatro cantos
Com a garganta enrijecida
Pela força exercida ao esbravejar
Lançando gotas perdidas no ar
Um político, um lunático?
Um perturbado mental?
Um religioso maluco?
Ou um tarado, por ter ficado eunuco?

sábado, 10 de abril de 2010

Médico e Monstro?

* por M. D. Amado

Meu nome é Carlos Rodrigo Demóstenes Tertuliano Tepes e sou um vampiro. Mas não sou um vampiro comum, se é que podemos chamar aquelas coisinhas frufruquinhas, de comuns. Não sou elegante, não sou sedutor e nem afeminado. Bonito também não sou, porque isso é coisa de menininha. Eu sou é macho. Muito macho. Inclusive, eu trabalho o dia todo com uma cruz.

Meu rosto se parece mais com daqueles cachorrinhos superdesenvolvidos e por muitas vezes sou confundido com eles, por causa da sobrancelha emendada, que se parece mais com uma taturana gigante, pousada sobre olhos negros e foscos.

Não tenho o costume de atacar a noite. Gosto do dia. Gosto de queimar a pele no Sol e pegar câncer. Não sou branquinho. Tenho a pele curtida e bruta. Nada de creminhos e filtro solar. Eu uso graxa. Outra particularidade de minha pessoa, é que mantenho uma estratégia de ataque que me permite minutos depois, devolver minhas vítimas para suas vidinhas medíocres. Com a velocidade de um super-herói idiota qualquer, consigo atacá-las no cruzamento que fica cerca de cem metros de minha casa. Sou tão rápido, que mesmo à luz do dia, ninguém é capaz de me ver. Após os ataques, na maioria das vezes, poucos minutos depois, ouço as batidas na porta. Alguém pedindo ajuda. E quem vai ajudá-los, já que não existe o Chapolin Colorado? Eu. Irônico, não?

Minutos antes eram minhas vítimas e agora as pego em meus braços. Deito-as no chão frio e começo os procedimentos que lhe colocarão de volta ao seu destino tosco e sem graça. Como médico e monstro, me faço de inocente e converso trivialidades com seus acompanhantes. O jogo do Atrético ou do Framengo... Do Curíntia ou do Inter. Não importa. Enquanto mergulho minhas ex-vítimas numa banheira com aquilo que chamo de água mágica, num banho de redenção e revelações, sorrio ironicamente já pensando no próximo otário.

Tudo pronto. Vítima recuperada, recebo por isso e ofereço um café que ninguém quer tomar. Vejo mais um indo embora...

Não sei se falei, mas eu não chupo sangue. Preciso de ar. Meu nome é Carlão e sou um vampiro borracheiro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Amor aos Pedaços

*por Gerson Balione
Jucelino e Janilene se conheceram num boteco, a beira da estrada. Eram bóias frias. Ele, dezenove anos, ela, dezessete. Foi amor à primeira vista. A primeira transa foi no meio do canavial. Os dois saíram de lá, arranhados, pelas folhas cortantes da cana. Dois meses depois estavam casados. Cinco anos depois, Jucelino apareceu com uma mancha, avermelhada, na perna, depois duas e três. Seis meses depois Janilene também apareceu com as manchas.

— Isso deve ser cobreiro. — disse Jucelino.

E para a benzedeira foram.

— Isso é lepra. Não vou mexer nisso. — disse a benzedeira.

— Lepra nada, é só cobreiro. — disse Jucelino furioso.


Mas as coisas começaram a piorar quando o dedo mindinho de Jucelino caiu, enquanto cortava a unha. Mas sabe como é, pessoas do interiorzão, não querem saber de médico. Colocou fumo no local e pronto.

A situação ficou ainda pior, quando Janilene, depois de colocar o brinco, viu ele cair com a orelha e tudo. Mas o amor entre eles era tudo e não se abalaram com esses pequenos detalhes. Qual o problema dele não ter um dedinho, ela uma orelha e os dois um monte de manchas espalhadas pelo corpo.

Uma noite estavam fazendo amor e em meio a movimentos frenéticos, de vai e vem, o falo de Jucelino se soltou, fazendo aquele som de rolha pulando da garrafa, e rolou para debaixo da cama. Aquilo acabou com Jucelino, que aos prantos, foi até a mercearia comprar um tubo de cola tudo.

— Olha Jani! Acho que ficou melhor que antes, num ficou não? Só que eu vou ter que ficar com esta fita isolante aqui, até secar. — ele aproveitou e endireitou seu falo, que era meio tortuoso.

Na noite seguinte foram testar para ver se estava tudo bem. E não é que o negócio colou mesmo. Transaram bastante, até que, os dois peitos de Janilene, no sobe e desse, não subiram junto com ela, ficaram nas mãos de Jucelino. Lá vão eles, comprar outro tubo de cola tudo, na mercearia.

— Põem eles um pouquinho mais pra cima! — pediu Janilene ao marido.

— Um pouquinho?

— Tá bom vai, sobe eles, uns vinte e cinco centímetros acima do umbigo.

— Agora sim! Ó, ficou jóinha, Jóinha, parece de modelo.

E foi assim, um pedaço caía ali, colava outro aqui e o amor foi desgastando-se, desfazendo-se. Já não transavam mais. A última vez que o pinto de Jucelino caiu, não teve como colar, não tinha mais lugar. Guardou num pote grande de palmito. Um dos peitos de Janilene, ficou fora de prumo e isso começou a minar a paciência do casal, que em um certo dia entraram em conflito.

— Olha só, eu não aguento mais catar pedaços seus pela casa. Estou cansada! — esbravejava ela, enquanto pedacinhos de seus lábios, eram lançados no ar, misturados a gotículas de saliva.

— É? E você! Com esse peito torto...

Jucelino levantou a mão, com o dedo indicador em riste, e, num movimento brusco, o dedo se soltou, saiu voando, acertando o olho de Janilene. Aos prantos, ela assoou o nariz e este saiu no lenço. Nervosa chutou com força, no meio das pernas de Jucelino. Seu pé saiu voando junto com as bolas dele. Com um pulo, Jucelino voou pra cima de Jani, mas suas pernas ficaram onde estavam, só seu tronco foi pra cima da moça, que gritou, mas ao abrir a boca, seu queixo caiu, deixando um enorme buraco em seu rosto. Rolaram no chão, e foram deixando pedaços de seus corpos, espalhados por todo lugar, até se desfazerem por completo.

Cinco dias depois...

— JÚ???... Janiii??????... Porta aberta? Não tem ninguém em casa? Iuhuuuuu!!!!! Tem alguém aqui? Nossa que sujeira é essa? Que cheiro de carniça. Há quanto tempo eu não venho aqui. Deve ter sido você né? Seu cachorro inútil! Deve ter fuçado no lixo, e agora está aí, escondido, em baixo do sofá. — a mulher resmungava enquanto recolhia os restos de carne podre e jogava-os na lata do lixo. — Onde será que eles foram? Argh!! Você matou algum bicho e trouxe para casa, né? Seu vira latas! — o cachorro roia um fêmur, sem dar atenção ao que a mulher falava.

domingo, 21 de março de 2010

Grafite

Ele já não saia na chuva há muitos anos. Pensando nos problemas, no amor perdido e que tanto o castigou, resolveu não correr da chuva. Se deixou levar...

Foi andando, da padaria para a sua casa. Sentindo a roupa grudando no corpo, a água escorrendo pelo corpo, refrescando o rosto e o espirito. Já podia começar a se sentir revigorado. Pensou em andar mais devagar, para aproveitar mais a chuva. Lembrou de quando era criança e corria na chuva, chutando poças e rolando na grama. Achou meio ridículo agora sair rolando na grama, mas disfarçadamente chutou algumas poças. Sorriu... Se sentiu livre...

Tirou o boné, abriu os braços e parou de andar... ergueu a cabeça com o sorriso estampado no rosto e....

ZAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAP!!!!

Tssssssssss.....

sábado, 20 de março de 2010

O Mito do Palmito

* por M. D. Amado

Ricardo é conhecido, dentre outras coisas, como um verdadeiro caninga, pão duro, mão fechada... E por isso, sempre corre atrás de promoções, preços baixos e produtos no atacado.

Ricardo viu um majestoso pote de palmitos, de 3kg, daqueles potes que você pode usar depois para armazenar, por exemplo, biscoitos (bolachas, para os paulistas). Seus olhinhos brilharam, fez contas, calculou o peso/preço dos potes pequenos e levou para casa.

Mas Ricardo também tem problemas com a leitura. É o tipo de pessoa que aluga um filme (quando aluga e não baixa da internet) olhando apenas a sinopse. Não lê resenhas, comentários ou algo do gênero. E com o advento do Twitter, Ricardo agora lê apenas os 144 primeiros caracteres de qualquer coisa, e isso inclui rótulos de majestosos potes de palmitos, de 3kg. Ricardo leu as primeiras informações, mas a partir do 145º caracter, vinha a informação de que o conteúdo do pote deveria ser consumido em até 48 horas, depois de aberto. Não continha conservantes.

Agora Ricardo tem à sua disposição 40 reais de botulismo em bolhas, grudadas nos palmitos. Mas pelo menos vai poder antecipar a compra de 3kg de biscoitos (bolachas para os paulistas) para armazenar no majestoso pote de palmitos com botulismo em bolhas.

Talvez ele fique bravo com esse post... Mas talvez nem fique sabendo do final da história, afinal de contas, passamos de 144 caracteres.

sábado, 13 de março de 2010

Minha sogra é um alien

* por Gerson Balione

Vou começar este relato com uma pergunta: Como seria a aparência de um alien?

Depende muito do planeta, constelação, galáxia e etc. Alguns podem ser multicoloridos, amorfos, disformes, multiformes, monocromáticos, políticos e outros que conheço por aí. E os que eu já vi. É isso mesmo! Já vi um, ao vivo, na minha frente. Eles já estão entre nós há um bom tempo. Esse papo de disco voador não existe. É tudo papo de americano. As espaçonaves deles são muito mais complexas do que simples discos voadores.

Vou fazer uma revelação. Minha sogra é hospedeira de um deles. É verdade, ela tem um nas costas, ela diz que é uma verruga, mas eu não acredito porque eu já o vi se mexendo.

Outro dia estávamos, eu e ela, sentados no sofá da sala. Estava um tédio, então eu decidi puxar assunto. — O que a senhora acha... — já comecei perguntando — ...quando a gente tem uma verruga, devemos ou não arrancá-la? — hesitei um pouco — Se fosse na senhora, a senhora arrancaria? Olhando-me com desconfiança, foi categórica na resposta. — Não! — Por que? Perguntei, ela foi categórica outra vez. — Elas dão sorte! — se eu tivesse uma verruga, pediria para o médico arrancar. — Ela me fuzilou com o olhar e falou que depois que apareceu uma verruga nela passou a ter sorte. Uma delas foi meu sogro ter partido dessa para a melhor, ou pior sei lá.

Outro dia eu a peguei conversando com a verruga, ou o alien. Estava se olhando no espelho dizendo. — Ninguém vai tirar você de mim... — Argh! Que nojo! Eu preferiria ter um filho zarolho, a ter um alien no corpo.

Acho bom todo mundo que tem sogra começar a reparar nelas. Porque é assim, todo mundo que tem, nunca repara. Você passa por elas e só as cumprimenta. Às vezes nem olha na cara dela. Eu sou igual.

Foi por acaso que eu descobri. Geralmente por elas estarem em suas casas, se acham no direito de irem ao banheiro com a porta aberta. Foi justamente neste momento que vi. Não sei o que foi pior o alien ou a minha sogra no banheiro. Só posso dizer que é assustador... Os dois... Minha sogra e o alien.

Olha só, se eu de repente desaparecer, podem contatar a NSA o exercito brasileiro, ou sei lá quem. O fato é que, na noite passada, fiz outra descoberta. Na verdade, a minha sogra... é a VERRUGA!!!!! O alien tomou a forma da minha sogra, e vice-versa. Eu acho que ele, ou ela, já está desconfiado, ou desconfiada, que eu sei de alguma coisa. Já estou orientando a minha filha, que tem dois aninhos, para que, se ela identificar qualquer coisa estranha com a avó dela, me avise. Eu não sei, acho que ela não entendeu muito bem sobre o que eu estava falando, mais ela concordou com a cabecinha e sorriu. Coisinha linda que é essa menina. O duro é convencer a mãe dela. Pode até parecer paranóia minha, mas eu estava fazendo carinho na minha esposa, e senti uma verruga perto da sua axila. Sabe aquelas que ficam meio soltas, dependuradas, balançando... então, não tive dúvidas, dei um puxão e a arranquei na hora. Ela me deu um tapa na cara e me chamou de louco. Estou achando que ela também foi abduzida. Será?! Vou observar pra ver se aparecem outras. Mas em uma coisa eu tenho que concordar, minha sogra ficou muito melhor na forma de verruga, até dá pra encarar agora.

O pior não é isso, minha sogra faz uma berinjela a parmegiana de outro “mundo”.

Vou colher mais informações e depois posto aqui... Bem, pelo menos até me descobrirem.

Se alguém souber de algo que esteja acontecendo com sua sogra, entre em contato. De repente podemos impedir uma invasão alienígena. Nunca é tarde. Mas tome cuidado elas são ardilosas.

sábado, 6 de março de 2010

O Coragyps atratus e a Lua

* Por M. D. Amado

Era uma agradável manhã de junho. Um domingo. Marcelo caminhava na orla da Lagoa da Pampulha junto com seu filho Bruno, quando uma cena lhe chamou a atenção. Quase 10 horas da manhã e a Lua ainda se mostrava preguiçosa no céu e curiosamente uma revoada de urubus girava diante dela. A inusitada imagem foi comentada por pai e filho que lamentaram não estarem com a câmera para registrar aquele momento. Mas o que nem de longe aqueles humanos imaginavam, era que uma dessas aves não estava preocupada com a carcaça a qual rodeavam.

O jovem Uóshito era o urubu mais novo de uma família de cinco filhotes. Seus irmãos eram Uéslei, Uílso, Uélito e Uálaci - sim, assim mesmo... Seu Ubaldo fez questão de registrá-los assim. Todos estavam com o bando, fazendo o ritual do roda e come. Mas Uóshito não participava dessa vez. Estava pousado sobre um galho seco de uma árvore quase morta, admirando a Lua, que ainda discutia com o Sol, que exigia sua saída de cena. Certa vez Uóshito confessou ao pai que sentia um grande amor por aquela moça grande e brilhante. Ubaldo caçoou do rapaz, dizendo-lhe ironicamente que ele nunca poderia namorar a Lua, porque eles eram bichos de hábitos diurnos, enquanto a Lua, exceto quando bebia um pouco demais e perdia a hora, era uma dama da noite. Mas Uóshito não se conformava. Queria muito namorar a Lua. Ficava imaginando quanto tempo levaria para voar até ela. Queria pousar em sua superfície e se aninhar no meio de suas crateras. E naquele dia tomou uma decisão: iria ao seu encontro.

Quando a noite veio e a família se recolheu ao lixão, o jovem apaixonado se escondeu atrás de um monte de caixas e esperou que seu pai dormisse. Respirou fundo, olhou para o céu estrelado e lá estava ela. Linda, cheia e brilhante. Uóshito jurou ter ouvido o seu chamado e seus olhos secos e sem vida se encheram de lágrimas. Abriu suas asas, que ainda não tinham atingido a envergadura máxima, mas que já contava com imponentes 80 centímetros entre uma ponta a outra, e alçou vôo. E não se importou se seu vôo tinha ou não tinha acento circunflexo. Apenas voou.

O vento gelado da noite batia em sua cabeça pelada e se espalhava por seu corpo negro. O brilho intenso de sua amada o encantava cada vez mais e lhe dava forças para não querer desistir. Ouviu um som familiar e pensou em tudo que estava deixando para trás. Talvez aquele fosse o som da despedida, pois naquela noite ele se tornaria namorado da Lua, custasse o que cus... VUOOOOOOOOOOOOOSSHHH!!!!

Ahhhhh... Pobre Uóshito... Tão novo e inocente. Displicente como todo adolescente. Nunca prestou atenção quando seu pai dizia para tomar cuidado com as grandes aves de aço, predadores não naturais dos Coragyps atratus.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Frango Zumbi

* Por M. D. Amado

Baseado em fatos reais...

Mônica estava em seu escritório, em casa, concentrada em seu trabalho, quando foi surpreendida por sons bizarros vindos do quintal. Pouca Pilha, Gêmea e Dálmata miavam de forma estranha e gutural (sim, eram gatas, embora seus nomes possam levar a crer que tenham um envolvimento direto com o tráfico de sardinhas em São Gonçalo). Para sua surpresa, um frango assado era disputado pelas três felinas, quase a tapas e arranhões.

Como surgiu aquele frango? De onde? Foi jogado por alguém? Caiu dos céus, talvez vindo da explosão de uma padaria? Alguma entidade não satisfeita com o despacho teria chutado fora da encruza? Mas Mônica morava longe da esquina... Só se fosse um caboclo quarter back, do Dallas Cowboys, por exemplo... Mas era Rio de Janeiro. No muito seria o Pet, dando uma bica no frango... Não, não... Tudo muito confuso.

Fato é que a porrada comia solta no quintal. Pouca Pilha mostrava que seu nome não fazia justiça a ela e atacava com tudo. Gêmea saiu fora da briga ao ver Mônica. Não queria decepcioná-la, embora estivesse com uma puta vontade de comer aquele frango todinho e sozinha. Dálmata quase perdeu as manchas na confusão e eu podia jurar que vi algumas manchas indo e voltando para o corpo do frango.

De repente as duas gatas param de brigar... Olham assustadas para o frango, que se levanta, limpa o corpo, tirando pedaços de grama, ajeita o pescoço (porque cabeça não tinha mais) e sai andando tranquilamente em direção ao portão da casa.

O que aconteceu antes? ...

Fred era um frango como outro qualquer. Era...

Fred morava no quintal de Madame Zulmira, que segundo as más línguas (e as boas também) era metida nas coisas ocultas, mais especificamente com voodoo e magia afro descendente.

Um desses pequenos incidentes que só o destino - aquele velho filho da puta - pode armar, foi responsável por essa pequena e trágica saga de Fred, o frango. Numa brincadeira de criança, o netinho de Dona Zulmira trocou o Sazon, aquele do amor, por um de seus pozinhos mágicos, com o curioso nome de "Levanta Alfredo". Alfredo era o nome carinhoso que Dona Zulmira dava ao falecido do falecido.

Depois de temperado e assado, Fred ergueu-se do forno e com um golpe apenas, derrubou a porta. Saiu correndo, tentando gritar, mas não tinha mais bico. Nem pés... Mas correu assim mesmo. Ah, o que é a força de vontade...

Depois de correr um quarteirão inteiro, Fred foi imbicado por um carro, indo parar no quintal de Monica, que estava em seu escritório, em casa, concentrada em seu trabalho...





Depois de sair pelo portão, Fred seguiu para Ramos...

A Lenda do Guerreiro Chinês

* por Gerson Balione


Este conto é uma adaptação, vampiresca, de uma piada, de autor desconhecido, encontrada na internet.

Um homem se perdeu no meio da China. Passou três meses dormindo em cavernas e comendo plantas, passando frio e fome. Um belo dia ele avistou no alto de um monte uma enorme casa chinesa.

Correu em sua direção e bateu à porta. Abriu-a um senhor chinês de longas barbas brancas que perguntou o que o esfarrapado rapaz desejava.

— Estou há mais de três meses perdido pelos campos, dormindo em cavernas frias, comendo plantas. Por favor, eu gostaria de uma cama limpa, um lugar para banhar-me e um prato de comida decente. Estou muito cansado e faminto.

O velho chinês ponderou e falou:

— Eu lhe ofereço um quarto limpo, um banheiro, roupas limpas e uma nobre refeição. A única condição é que o senhor não faça nada à minha neta.

— Claro, senhor. O senhor realmente é um homem bom.

— Se acontecer alguma coisa à minha neta, o senhor sofrerá as três piores torturas chinesas.

— O senhor pode ficar tranquilo.

Então o rapaz tomou seu banho, vestiu novas roupas e desceu para jantar. Foi sentar à mesa, olhar para a jovem neta chinesa do velho avô chinês e se apaixonar. Além de maravilhosa, ele sentiu que o interesse era mútuo. Paixão à primeira vista. Pensou em silêncio:

— Há três meses não vejo uma mulher e, com certeza, esta noite valerá qualquer sacrifício, mesmo essas três piores torturas chinesas.

De noite foi ao quarto da jovem e teve a noite mais incrível de sua vida. Ao acordar sentiu um enorme peso sobre o seu peito. Abriu os olhos e viu uma enorme pedra sobre seu peito e nela estava escrito Primeira Grande Tortura Chinesa - grande pedra sobre peito.

— Bom, se for assim, tudo bem.

Ergueu a pedra e conseguiu lançá-la pela janela próxima à cama, quando ele viu uma linha amarrada à pedra e uma outra frase escrita: Segunda Grande Tortura Chinesa - pedra amarrada ao testículo esquerdo.

Desesperado com a situação o rapaz se jogou pela janela atrás da pedra. Foi quando pode ver escrito uma outra frase: Terceira Grande Tortura Chinesa - testículo direito amarrado ao pé da cama.

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Esta parte eu acrescentei.
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Após ter seus testículos arrancados o rapaz foi expulso pelo velho chinês, Shen Pao Su Jin, e seus testículos foram jogados, um de cada lado da grande muralha.

Perambulando, perdido e desanimado, o rapaz, que agora chamava-se, Sha Cuo Mu Shuo, sentia um profundo vazio. Embreou-se na selva chinesa. Faminto, perdeu os sentidos e desmaiou.

Um grupo de pandas gigantes o acolheu, mas somente depois que o panda macho, verificou se ele representava algum perigo para suas fêmeas. Foi tratado e alimentado pelos pandas. Aprendeu a comer bambu. Mas era tratado como escravo. Às vezes, um grupo de pandas macho, caçoava dele. Paravam bem a sua frente, enquanto ele colhia bambu para sua refeição diária, e mostravam o enorme saco peludo e caiam na gargalhada. Um pequeno panda macho, vendo a tristeza e angustia do rapaz, por não ter os testículos, trouxe-lhe um presente como pedido de desculpas. O rapaz estendeu as mãos e o panda entregou-lhe algo embrulhado em algumas folhas. O rapaz agradeceu e abriu o embrulho, eram dois coquinhos. Podia-se ouvir as gargalhadas dos pandas, ecoando pela mata. O rapaz, desolado, partiu. Voltou até a casa do velho Shen Pao Su Jin, ajoelhou-se pedindo perdão perdão. O velho chinês, então, deu a ele uma missão. Ele teria que procurar e encontrar seus testículos, que haviam sido jogados, um de cada lado da muralha. Trazê-los até ele, que, por meio de uma magia milenar, seriam recolocados no lugar, transformando-os em testículos mágicos. Daria a mão de sua neta Mie Cha Ka Lee Dei, em casamento e desta união nasceria um guerreiro que acabaria com a horda dos vampiros chineses. A horda de vampiros chineses era liderada, nada mais, nada menos, pelo mais temido e sanguinário seguidor de Nosferatu. O vampiro Rei Jing Lee Chu Pei. O guerreio, fruto desta união, iria se chamar: Kong Bi Lao Lan Ka Shang.

O pequeno Bi Lao Lan Ka Shang cresceu e virou o Grande Bi Lao Lan Ka Shang.
O vampiro Rei Jing Lee Chu Pei, ficou sabendo, por intermédio de um morcego mascarado, que usava a cueca por cima do colam e um cinto ridículo, que um guerreiro viria para destruí-lo. Decidiu, então, invocar os espíritos guerreiros de Bruce Lee, Sara Lee, Rita Lee, Calça Lee e Negra Lee.

No dia do grande combate, logo pela manhã, Bi Lao já estava de pé, para ele não existia moleza. De cabeça erguida. Foi para o combate vencendo todos os espíritos guerreiros. Agora seria a batalha final.

Na penumbra da noite, entre uma névoa espessa, pode ver os olhos vermelhos de Jing Lee Chu Pei. Em sua mente passavam-se todos os ensinamentos que seu pai lhe dera. Até a incrível arte de lutar com lanças de bambu, que seu pai aprendera com os pandas gigantes. Após a morte de seu pai, sua mãe, Mie Cha Ka Lee Dei, deu à ele uma boleadeira mágica, feita com os testículos petrificados de seu pai, ela deveria ser usada no combate contra o temido vampiro. O grande Bi Lao estava tomando uma surra de Lee Chu Pei. Caído, lembrou-se da boleadeira, tirou-a do saco, beijou os testículos de seu pai, pedindo forças, girou e arremessou. A boleadeira enrolou-se nas pernas de Lee Chu Pei que foi ao chão. O grande Bi Lao pegou sua lança de bambu e foi direto no peito de Lee Shu Pei. A lança parou na armadura que ele usava, ela não era mágica, mas era feita do hímen retirado de uma tia-avó, que morrera virgem aos 180 anos.

Com uma risada gutural o vampiro rei perguntou:

— E agora? O que você vai fazer com este bambu?

Kong Bi Lao Lan Ka Shang, cavalgava no dorso de seu imponente e belo cavalo. A brisa da manhã refrescava-lhe as feridas do intenso combate. Raios de sol brotavam no horizonte. Ao fundo, combalido, via-se Jing Lee Chu Pei, agonizando, com o bambu enfiado em seu traseiro, até quase o último gomo, e vaporizando-se com os primeiros raios de sol.

Provérbio Chinês: “O que eu ouço, eu esqueço. O que eu vejo, eu não lembro. O que eu faço, eu não entendo. Estou com Alzheimer”.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Humor com humor se paga

* Por M. D. Amado

Seu Ariclênio era o tipo de homem que olhava torto até para a própria sombra. Se o mal humor tivesse que ser representado por um homem, não haveria representante melhor que Seu Ariclênio. Diziam as más línguas que ele era daquele jeito por nunca ter se casado. Outros afirmavam o contrário: que ele não tinha juntado os “panos de bunda” com ninguém, justamente por ser tão mal-humorado.

E não bastasse o humor do cão, o homem era também arrogante. Perguntas idiotas – ao menos as que assim lhe pareciam – eram respondidas com rispidez e truculência, fosse quem fosse. Não perdoava nem o padre da nossa cidade. Certa vez o pároco o encontrou na rodoviária, segurando duas malas. Tentando puxar conversa, fez uma pergunta inocente:

— Vai viajar Seu Ariclênio?
— Não criatura de batina. To aqui esperando pra ver se alguém se interessa em comprar duas malas cheias de roupas usadas. De repente aparece alguém querendo viajar e não tem malas para fazer uma boa cena.

Tudo bem que a pergunta realmente foi idiota, mas não precisava ser tão rude com a criatura de bat... Digo, com o padre. Ainda assim essa resposta poderia ser considerada uma das mais educadas de Seu Ariclênio.

Mas vamos deixar de lado esses pormenores e rumar para o final desse causo. Numa abafada tarde de domingo, uma viúva por quem Seu Ariclênio tinha querência, proseava descontraída com nosso irritado amigo quando soltou uma daquelas perguntas de fazer revirar os olhos do ranzinza. Não querendo espantar o seu bem querer, ele se segurou e a resposta ficou entalada na garganta do pobre homem. O fato é que tal engasgo se tornou real e ele veio a falecer, vítima de sufocamento.

Bom, para que o amigo leitor tome ciência do final dessa história é preciso que seja crente nas coisas do espírito, caso contrário há de questionar minha sanidade mental ou me tomar por mentiroso. Caso é que o ocorrido me foi sussurrado por um anjo de asinhas brancas e olhos da cor do mar. O danadinho me apareceu no dia seguinte ao do enterro de Seu Ariclênio, enquanto eu dava um acabamento caprichado no túmulo - ofício que aprendi com meu falecido pai.

Disse ele, que Seu Ariclênio acordou em meio a nuvens branquinhas, um jardim de margaridas e sob um teto de estrelas que brilhavam até durante o dia. Diante dele, viu um imenso portão dourado adornado com rosas de uma cor que nunca tinha visto.

Admirado com a beleza e a paz do local, Seu Ariclênio sorriu pela primeira vez em sua vida/morte e foi de encontro ao homem alto que guardava a entrada. Suas barbas eram tão brancas quanto a túnica que vestia. Um crachá pendurado junto ao crucifixo trazia o nome Pedro. Com o sorriso que ainda não tinha abandonado seu rosto, Seu Ariclênio perguntou cheio de entusiasmo na voz:

— Estou no céu?

Revirando os olhos e colocando as mãos postas diante do rosto, Pedrão respondeu cerrando os dentes:

— Não meu filho. Isso daqui é uma fábrica de algodão e eles estão espalhados dessa forma, porque faltam jumentos pra carregar. Não quer entrar e ser útil?

Não sei é fato ou lenda. Só conto o que me foi contado. Mas se for verdade verdadeira, é certo que foi merecido.


Nem sempre as coisas são o que parecem ser

* Por Gerson Balione


Dudu caminhava calmamente pela calçada, num dia ensolarado, e alegre, de verão. Uma revoada de andorinhas bailavam no céu ao sabor do vento. Sabiás e bem-te-vis, gorjeavam freneticamente, tinham que se mostrar para suas fêmeas ou ficariam sem elas. Ao longe se via um gavião tentando uma incursão, sem sucesso, no bando de andorinhas e sendo expulso por elas com bicadas em sua cabeça . Dudu, como gostava de ser chamado, não gostava de seu nome, Educélido Baptista da Silva, Edu por parte de pai o senhor Eduarderson e Célido por parte de mãe, Dona Jeucélida. Caminhava, carregando, em baixo do braço, presa sob sua axila, uma pasta parda de papel cartão, já marcada e se desfazendo pelo suor. Carregava nela, papeis e documentos da empresa onde trabalhava. Muito conhecido na região, pelo seu carisma e pelo auto-astral, sempre sorridente, cumprimentava todos por onde passava. Seu Elcio “Presley”, dono da revistaria, de um vasto topete e uma enorme costeleta, a la Elvis. Seu Júlio da lanchonete, vulgo Perninha. Perninha, porque tinha uma perna menor que a outra, mas só dava para perceber quando ele andava pela rua. No bar, de tanto fazerem piada com seu defeito físico, colocou no chão, na metade do corredor formado pelo balcão e a parede, um estrado de madeira com a diferença de altura entre uma perna e outra, assim, lá, andava normalmente. Uma moradora de rua, enorme de gorda, que ficava deitada na calçada com os seus enormes seios, esparramados por sobre sua barriga, carinhosamente apelidada por ele de Dona Teta. Ela nem se levantava para urinar. Viu várias vezes ela fazendo o xixi, ali mesmo, sem cerimônia alguma, num potinho de maionese, para depois jogá-lo por cima da floreira, onde ficava encostada. E sem falar na Débora. Débora a garota do bumbum guloso. Era como ele gostaria de chamá-la. Vendedora de sapatos, como era gostosa. Morena, de olhos claros, dona de um traseiro suculento e fenomenal. Bumbum guloso porque a tanguinha que ela usava, desaparecia naquela imensa e protuberante saliência lombar. Parecia que havia sido devorada por ele, o bumbum. Todo dia entrava na loja para experimentar sapatos, só para vê-la rebolando. Envolto em seus pensamentos, flutuando em suas memórias, não prestou atenção que estava bem na beirada da calçada. Pisou em um pedaço de papel celofane, jogado por algum transeunte mal educado, escorregou, tentou agarrar-se em alguma coisa, mas não havia nada em que agarrar. Fez um esforço danado para virar o corpo e cair para o lado da calçada. Deparou-se com um ônibus, iria pegá-lo em cheio, se não fosse a Dona Teta segurá-lo pelo braço. Com um sorriso pútrido e desdentado, ofereceu-lhe um marmitex com resto de comida, cheirando a azedo, que ele agradeceu, recusando a oferenda.

— Obrigado Dona Tet... quero dizer Dona... Como é mesmo o nome da senhora...

A mulher apenas se virou, deixando uma seqüência de flatulências ao vento, que produziu um som fantasmagórico. Deitou-se novamente perto da floreira e refestelou-se com o marmitex azedo.

A pasta parda estava esparramada no meio fio e Dudu virou-se para pegá-la, não viu um garoto de bicicleta. Escutou o tilintar da campainha, só teve tempo de pular para o meio da rua, levantou sua cabeça e viu Débora se acocorando para mostrar um sapato para alguém na loja. Que traseiro lindo, pensou ele. E tudo ficou escuro.

Dudu ouvia um falatório abafado, sentia um peso enorme do pescoço para baixo, não sentia dor, só a pressão. Abriu seus olhos, alguém tentava empurrar-lhe um tubo goela abaixo. Viu seu Elcio Presley com as duas mãos no topete, viu seu Júlio chegar manquitolando, esbaforido, viu Dona Teta, com a boca desdentada e toda engordurada, sorrir. Viu Débora saindo do meio da multidão que se aglomerava em sua volta e ficou puto da vida quando um cara a abraçou para apará-la. Que bunda gostosa, pensou ele novamente, e tudo voltou a ficar escuro.

Dudu havia sido atingido por um jetski, que era rebocado sobre uma carreta atrelada a um automóvel. Provavelmente, um solavanco causado pelo impacto do carro e da carreta no enorme buraco, aberto pela chuva da noite anterior, fez com que o jetski se soltasse, indo de encontro ao alegre, fugaz e viril, Dudu, que não foi tão fugaz naquele momento.

Cinco dias depois do acidente, acordou na cama de um hospital. Abriu os olhos que ainda estavam turvos. Tentou falar, mas não conseguia o tubo enfiado na sua garganta atrapalhava. Ficou assustado, logo uma enfermeira veio, retirou o tubo e chamou o médico.

Quando o médico chegou, ele já enxergava melhor, mas não conseguia falar. Não mexia nem os braços e nem as pernas. Foi um choque, ouvir o que havia acontecido com ele. O acidente o deixou tetraplégico e sem fala. Passaram-se os dias, foi para casa. Sua revolta transformou-se em vontade de viver. Aprendeu a digitar, no teclado do computador, com a ponta do nariz. Tinha uma certa dificuldade, pois seu nariz era um pouco largo, então, fez um pedido, uma plástica para afinar seu nariz e assim, digitar mais rápido e melhor. Um mês depois estava ele com seu nariz novo em folha e pronto para digitar. Fantástico Dudu digitava incrivelmente bem, com seu nariz, até que um dia seu nariz ficou preso entre uma tecla e outra, não havia ninguém em sua casa, ficou lá por horas seguidas. Tentava a todo custo, desprender seu nariz do teclado. Tentava empurrar com a ponta da língua, sem sucesso. Quando sua irmã chegou em casa e o encontrou, desprendeu seu nariz, mas era tarde. Com o nariz preso por muito tempo, à circulação sanguínea cessou, necrosando seu aparelho olfativo e digitador. Sua amputação foi inevitável.

Dudu entrou novamente em depressão, mas ele era forte e persistente. Com muita dificuldade conseguiu digitar segurando um palito com sua boca. Passaram-se alguns dias, teve outra ideia. Antes do seu acidente conheceu, um tatuador, que tinha a língua dividida ao meio e que conseguia fazer movimentos incríveis com ela. Decidiu então que iria dividir sua língua, assim poderia digitar melhor. E foi o que fez. Digitava tão bem e rápido, que foi convidado a participar de um concurso de SMS pelo celular, Ganhou um incrível segundo lugar.Com o dinheiro do premio, mandou fazer uma prótese para o nariz, que acabou ficando melhor que o original. Agora ele era conhecido como “Dudu o língua de lagarto”. Conseguiu o e-mail da Débora, aquela do bumbum guloso e a convidou para ir até sua casa. No dia marcado a campainha soou. Ouviu sua mãe falando com alguém, era ela, Débora. Sua mãe orientou a moça a ficar a vontade, pois teria que sair e demoraria a voltar, estariam a sós.

Débora apareceu na porta do quarto e viu Dudu deitado em sua cama. Vestida com um top e uma calça branca, fez Dudu ver estrelas. Aproximou-se da cama e deu um beijo na ponta de seu nariz, que infelizmente era uma prótese e ele nada sentira. Entristecida pela situação que Dudu se encontrava, passou a fazer carinhos em sua cabeça. Ele mostrou a ela sua língua bifurcada e os movimentos que era capaz de fazer com ela. Com sua face ruborizada, escreveu na tela do computador, que queria vê-la rebolar. Débora atendeu prontamente. Dudu sentiu uma excitação, um calor. A garota se despiu, subiu na cama e aproximou seu grande e protuberante bumbum, de seu rosto. Dudu desferiu mordiscadas, nas belas, durinhas e rechonchudas nádegas de Débora. E com sua língua bifurcada acariciou e penetrou sua genitália. Débora foi ao delírio. Ficaram lá por horas. A garota vestiu-se e se despediu, dando outro beijo na ponta da prótese nasal. Débora saiu e fechou a porta. Encontrou a mãe de Dudu, que lhe deu um envelope com quinhentos reais. A moça agradeceu e ofereceu seus préstimos a qualquer hora, do dia ou da noite. Dudu? Bem. Dudu ficou realizado. No dia seguinte acordou com uma boqueira infernal e uma afta na língua, que acabou virando uma ferida enorme e incurável. A amputação foi à única solução. Sem nariz e sem língua, Dudu voltou a digitar com um palito e a sonhar com Débora, a garota do bumbum guloso.

Alvo e Rubro

* Por M. D. Amado

O cenário em nada combina com o lençol e as roupas manchadas de sangue. Um fio de luz entra timidamente pela fresta da janela, iluminando parte do colchão, o tapete com estampa da Betty Boop e um pedaço da estante de livros. O chão de tábua corrida muito bem encerado reflete o ventilador de teto, que se encontra ligado na velocidade mínima. A porta entreaberta ensaia uma pequena dança, embalada pelo vento que vem do corredor, parecendo anunciar a entrada de alguém a qualquer momento.

Atiradas de qualquer forma sobre a poltrona de tecido carmim, a calça jeans e a camiseta de malha verde clara denunciam a pressa de ir para cama na noite anterior. O celular caído no chão ao lado do par de tênis e das chaves do carro, registra duas mensagens recebidas e não lidas.

Os cabelos castanhos levemente avermelhados jogados sobre um rosto pálido, porém de uma jovialidade invejável desenhada em traços sublimes. Não fosse pela mancha vermelha que toma conta de quase todo o ventre, a camisola de seda branca passaria despercebida aos olhos de quem, como eu, esteja admirando esse corpo perfeito. Não é um corpo de modelo, ou de atleta e muito menos de “Musa do Brasileirão” ou “Mulheres Frutas” (que de perfeito nada possuem). É perfeito em sua naturalidade e em suas curvas. Perfeito nas proporções. O chamado “corpo de violão”.

O relógio marca oito e trinta da manhã e não despertara, pois hoje ela não iria trabalhar. Havia programado um merecido dia de folga.

O prenúncio feito pela porta entreaberta se concretizou. Dona Carmem entra no quarto e se depara com o vermelho que pintara o lençol, a calcinha e as coxas de sua filha.

O susto leva ao grito, que leva ao susto...

— Aninha!!! Aninha!!!

E Aninha, despertada de um de seus melhores sonhos, ainda meio zonza, esfrega os olhos e olha para o meio de suas pernas.

— Puta que o pariu! Esqueci de por o absorvente!

Mudança de Comportamento

* Por Gerson Balione

Ela chegou em minha vida
Pra mudar meu comportamento.
Retiro meu sapato para sentir o vento.
Sento em minha poltrona,
Flexiono meus joelhos,
E com as meias tiradas dos pés
Passo entre os dedos.

A sensação é de tesão.
Frieira no pé é a maior curtição.
Não tem hora pra acabar,
Coço até sangrar.

Já fiquei sem dormir,
Já parei até de transar,
Só para minhas frieiras coçar, coçar e coçar.

Esfrego na parede,
Esfrego no chão,
Esfrego até na costura do colchão.

O cachorro já lambeu,
Cocei na voltinha do pneu
E Já pinguei até breu.

Não há jeito de sarar.

Já peguei erisipela,
Uma baita infecção.
Mas não importa.
O que vale mesmo e coçar os pés.
Que tesão!

Puta que o Pariu

* Por M. D. Amado


Operário em tempo quase integral, escritor nas raras horas vagas. Escrever era a única coisa que o fazia se sentir um pouco melhor. Era quando esquecia seus erros, falhas e má sorte e entrava em um mundo de sonhos. Naquela manhã quando chegou ao seu posto de trabalho, o fez decidido a por um fim em sua vida repleta de fracassos.

Antes, porém, resolveu escrever suas últimas palavras, destinadas... à ela. Pegou seu celular e mandou a mensagem: “Te amo a cada amanhecer. A cada gota de chuva que cai sobre seu rosto em meus sonhos, onde ainda posso ser feliz. Te amo sempre! Nunca se esqueça meu amor.”

Esperou por alguns minutos a resposta. Queria receber um último “oi”. A resposta não veio... Ele suspirou profundamente, retirou as luvas e arregaçou as mangas do uniforme. Olhou para o sobe e desce da lâmina de corte da máquina e sentiu um arrepio lhe subir a espinha. Pensou em tudo no dia anterior. Pediu a um colega que trocasse de lugar com ele, dando uma desculpa de não querer conversa com o encarregado que ficava ao lado de sua máquina. Ele queria ficar longe da enfermaria. Não seria um pequeno corte nos pulsos. Deceparia suas mãos e não haveria tempo para que alguém pudesse salvá-lo.

Olhou mais uma vez para o celular, na esperança de ver uma resposta. Nada... Deu dois passos em direção a máquina. Um colega ao lado tentou chamar sua atenção, dizendo para se afastar. Ele ignorou.

Queria ver a morte chegando. Sonhava com ela há várias noites. Tinha curiosidade de saber como era. Se realmente uma velha senhora vestida de negro, ou uma jovem mulher linda e carinhosa. Torcia para que não fosse um homem. No entanto não houve tempo para que ele pudesse vê-la chegar. Quando viu o seu próprio sangue jorrando em grande quantidade e suas mãos rolando para o outro lado da prensa, sendo completamente esmagadas por 15 toneladas de pressão, acabou desmaiando. Nunca pode com sangue.

...

Ouvia vozes... Música... Respirava lenta e calmamente. Por um momento pensou que era mentira aquilo que aprendera nos livros de espiritismo. Diziam que os suicidas tinham um triste fim. Estava se sentindo bem. Confortável. Podia sentir uma leve brisa em seu rosto. Ao contrário do calor prometido de um inferno de arrependimentos, sentia até um pouco de frio. Antes de abrir os olhos, sorriu.

Pobre coitado. Justamente naquele dia em que decidiu se matar daquela forma horrível, uma equipe de paramédicos, equipada inclusive com uma UTI móvel, estava fazendo uma demonstração de primeiros socorros na grande fábrica.

A única frase que lhe veio à cabeça: - Puta que o pariu!

A Bola de Cristal

* Por Gerson Balione

Armandinho, aparentemente, era um menino normal, se não fosse por uma coisa. Conseguia adivinhar as coisas e prever o futuro, mas somente um futuro próximo, apenas com três horas de antecedência e sempre de pessoas próximas, fisicamente falando.

Quando brincava com seus amigos de “Bater Bafo”, (aquela brincadeira com figurinhas em um montinho, onde o jogador tem que bater com a palma da mão e o que virar é dele), sempre sabia quais as figurinhas iriam virar. Quando brincava de esconde-esconde, sempre sabia onde seus amigos estavam. Na escola, no intervalo do recreio, todo mundo fica a sua volta e uma a um, ele falava quem tiraria nota alta ou baixa. Assim, quando chegassem em suas casas estariam prevenidos para a surra ou para o presente, dependendo da nota. Na sua adolescência, aprendeu a jogar baralho. No truco não perdia uma. Todo mundo o queria no grupo. No poker virou celebridade. Sempre pegava as garotas por causa do seu dom. Como sabia o que as pessoas iriam falar, se antecipava, assim, conseguindo os melhores empregos e os melhores cargos. Foi chamado para vários programas de televisão. Armandinho era um sucesso. Em casa, como hobby, fazia previsões para amigos e parentes. Descobriu traições na família e amigos. Salvara varias pessoas de sofrerem acidentes, alguns até fatais. Desmascarou vários políticos corruptos. Sempre era chamado para participar de CPIs. Descobriu várias falcatruas no Senado. Era considerado o herói do Brasil. Seria um dom de Deus?

Armandinho tinha uma frustração. Não podia prever nada a seu respeito, mesmo tentando não conseguia. Um dia ficou doente e teve que fazer uma tomografia do corpo inteiro. Foi quando veio a surpresa. A tomografia revelara de onde vinha o seu dom. Uma das bolas do saco de Armandinho era de cristal. Armandinho viveu apenas mais uma semana. Foi assassinado na porta de uma emissora de televisão. Talvez por um político, um familiar ou até um corno descontente pelas suas previsões.

Esta foi à história de Armandinho que ficou conhecido como O Homem da Bola de Cristal.