quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Alvo e Rubro

* Por M. D. Amado

O cenário em nada combina com o lençol e as roupas manchadas de sangue. Um fio de luz entra timidamente pela fresta da janela, iluminando parte do colchão, o tapete com estampa da Betty Boop e um pedaço da estante de livros. O chão de tábua corrida muito bem encerado reflete o ventilador de teto, que se encontra ligado na velocidade mínima. A porta entreaberta ensaia uma pequena dança, embalada pelo vento que vem do corredor, parecendo anunciar a entrada de alguém a qualquer momento.

Atiradas de qualquer forma sobre a poltrona de tecido carmim, a calça jeans e a camiseta de malha verde clara denunciam a pressa de ir para cama na noite anterior. O celular caído no chão ao lado do par de tênis e das chaves do carro, registra duas mensagens recebidas e não lidas.

Os cabelos castanhos levemente avermelhados jogados sobre um rosto pálido, porém de uma jovialidade invejável desenhada em traços sublimes. Não fosse pela mancha vermelha que toma conta de quase todo o ventre, a camisola de seda branca passaria despercebida aos olhos de quem, como eu, esteja admirando esse corpo perfeito. Não é um corpo de modelo, ou de atleta e muito menos de “Musa do Brasileirão” ou “Mulheres Frutas” (que de perfeito nada possuem). É perfeito em sua naturalidade e em suas curvas. Perfeito nas proporções. O chamado “corpo de violão”.

O relógio marca oito e trinta da manhã e não despertara, pois hoje ela não iria trabalhar. Havia programado um merecido dia de folga.

O prenúncio feito pela porta entreaberta se concretizou. Dona Carmem entra no quarto e se depara com o vermelho que pintara o lençol, a calcinha e as coxas de sua filha.

O susto leva ao grito, que leva ao susto...

— Aninha!!! Aninha!!!

E Aninha, despertada de um de seus melhores sonhos, ainda meio zonza, esfrega os olhos e olha para o meio de suas pernas.

— Puta que o pariu! Esqueci de por o absorvente!

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