quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Humor com humor se paga

* Por M. D. Amado

Seu Ariclênio era o tipo de homem que olhava torto até para a própria sombra. Se o mal humor tivesse que ser representado por um homem, não haveria representante melhor que Seu Ariclênio. Diziam as más línguas que ele era daquele jeito por nunca ter se casado. Outros afirmavam o contrário: que ele não tinha juntado os “panos de bunda” com ninguém, justamente por ser tão mal-humorado.

E não bastasse o humor do cão, o homem era também arrogante. Perguntas idiotas – ao menos as que assim lhe pareciam – eram respondidas com rispidez e truculência, fosse quem fosse. Não perdoava nem o padre da nossa cidade. Certa vez o pároco o encontrou na rodoviária, segurando duas malas. Tentando puxar conversa, fez uma pergunta inocente:

— Vai viajar Seu Ariclênio?
— Não criatura de batina. To aqui esperando pra ver se alguém se interessa em comprar duas malas cheias de roupas usadas. De repente aparece alguém querendo viajar e não tem malas para fazer uma boa cena.

Tudo bem que a pergunta realmente foi idiota, mas não precisava ser tão rude com a criatura de bat... Digo, com o padre. Ainda assim essa resposta poderia ser considerada uma das mais educadas de Seu Ariclênio.

Mas vamos deixar de lado esses pormenores e rumar para o final desse causo. Numa abafada tarde de domingo, uma viúva por quem Seu Ariclênio tinha querência, proseava descontraída com nosso irritado amigo quando soltou uma daquelas perguntas de fazer revirar os olhos do ranzinza. Não querendo espantar o seu bem querer, ele se segurou e a resposta ficou entalada na garganta do pobre homem. O fato é que tal engasgo se tornou real e ele veio a falecer, vítima de sufocamento.

Bom, para que o amigo leitor tome ciência do final dessa história é preciso que seja crente nas coisas do espírito, caso contrário há de questionar minha sanidade mental ou me tomar por mentiroso. Caso é que o ocorrido me foi sussurrado por um anjo de asinhas brancas e olhos da cor do mar. O danadinho me apareceu no dia seguinte ao do enterro de Seu Ariclênio, enquanto eu dava um acabamento caprichado no túmulo - ofício que aprendi com meu falecido pai.

Disse ele, que Seu Ariclênio acordou em meio a nuvens branquinhas, um jardim de margaridas e sob um teto de estrelas que brilhavam até durante o dia. Diante dele, viu um imenso portão dourado adornado com rosas de uma cor que nunca tinha visto.

Admirado com a beleza e a paz do local, Seu Ariclênio sorriu pela primeira vez em sua vida/morte e foi de encontro ao homem alto que guardava a entrada. Suas barbas eram tão brancas quanto a túnica que vestia. Um crachá pendurado junto ao crucifixo trazia o nome Pedro. Com o sorriso que ainda não tinha abandonado seu rosto, Seu Ariclênio perguntou cheio de entusiasmo na voz:

— Estou no céu?

Revirando os olhos e colocando as mãos postas diante do rosto, Pedrão respondeu cerrando os dentes:

— Não meu filho. Isso daqui é uma fábrica de algodão e eles estão espalhados dessa forma, porque faltam jumentos pra carregar. Não quer entrar e ser útil?

Não sei é fato ou lenda. Só conto o que me foi contado. Mas se for verdade verdadeira, é certo que foi merecido.


3 comentários:

  1. Comentários???
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    (deixa eu parar de rir primeiro, se eu não enfartar eu comento) KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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  2. Não adianta você me mandar rir baixo, Amado. Agora já era.
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Beijão,

    Glaucia

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  3. Mereceu, muito bem merecido, e essa tolerância zero ai me lembrou alguém (a)

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