sábado, 6 de março de 2010

O Coragyps atratus e a Lua

* Por M. D. Amado

Era uma agradável manhã de junho. Um domingo. Marcelo caminhava na orla da Lagoa da Pampulha junto com seu filho Bruno, quando uma cena lhe chamou a atenção. Quase 10 horas da manhã e a Lua ainda se mostrava preguiçosa no céu e curiosamente uma revoada de urubus girava diante dela. A inusitada imagem foi comentada por pai e filho que lamentaram não estarem com a câmera para registrar aquele momento. Mas o que nem de longe aqueles humanos imaginavam, era que uma dessas aves não estava preocupada com a carcaça a qual rodeavam.

O jovem Uóshito era o urubu mais novo de uma família de cinco filhotes. Seus irmãos eram Uéslei, Uílso, Uélito e Uálaci - sim, assim mesmo... Seu Ubaldo fez questão de registrá-los assim. Todos estavam com o bando, fazendo o ritual do roda e come. Mas Uóshito não participava dessa vez. Estava pousado sobre um galho seco de uma árvore quase morta, admirando a Lua, que ainda discutia com o Sol, que exigia sua saída de cena. Certa vez Uóshito confessou ao pai que sentia um grande amor por aquela moça grande e brilhante. Ubaldo caçoou do rapaz, dizendo-lhe ironicamente que ele nunca poderia namorar a Lua, porque eles eram bichos de hábitos diurnos, enquanto a Lua, exceto quando bebia um pouco demais e perdia a hora, era uma dama da noite. Mas Uóshito não se conformava. Queria muito namorar a Lua. Ficava imaginando quanto tempo levaria para voar até ela. Queria pousar em sua superfície e se aninhar no meio de suas crateras. E naquele dia tomou uma decisão: iria ao seu encontro.

Quando a noite veio e a família se recolheu ao lixão, o jovem apaixonado se escondeu atrás de um monte de caixas e esperou que seu pai dormisse. Respirou fundo, olhou para o céu estrelado e lá estava ela. Linda, cheia e brilhante. Uóshito jurou ter ouvido o seu chamado e seus olhos secos e sem vida se encheram de lágrimas. Abriu suas asas, que ainda não tinham atingido a envergadura máxima, mas que já contava com imponentes 80 centímetros entre uma ponta a outra, e alçou vôo. E não se importou se seu vôo tinha ou não tinha acento circunflexo. Apenas voou.

O vento gelado da noite batia em sua cabeça pelada e se espalhava por seu corpo negro. O brilho intenso de sua amada o encantava cada vez mais e lhe dava forças para não querer desistir. Ouviu um som familiar e pensou em tudo que estava deixando para trás. Talvez aquele fosse o som da despedida, pois naquela noite ele se tornaria namorado da Lua, custasse o que cus... VUOOOOOOOOOOOOOSSHHH!!!!

Ahhhhh... Pobre Uóshito... Tão novo e inocente. Displicente como todo adolescente. Nunca prestou atenção quando seu pai dizia para tomar cuidado com as grandes aves de aço, predadores não naturais dos Coragyps atratus.

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, passei mal! :-D
    Tadinho do Uóshito (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk), não tive culpa de passar com um ATR-72 bem na hora... Beijoooo!

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